Quando o dejeto paga a conta!

De passivo ambiental para insumo nobre dentro do confinamento
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Os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas ao longo de todo o ciclo produtivo são o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K). Para que o solo ofereça condições adequadas, é necessário que ele contenha não apenas esses elementos, mas também um equilíbrio entre macro e micronutrientes.

Nas produções agrícolas, o aporte natural do solo raramente é suficiente para atender à demanda das culturas, o que torna indispensável o uso de fertilizantes. De acordo com a legislação brasileira, fertilizante é definido como toda “substância mineral ou orgânica, natural ou sintética, capaz de fornecer um ou mais nutrientes às plantas”.

O Brasil figura entre os maiores produtores de grãos do mundo, liderando o ranking na produção de soja. Em 2025, de janeiro a julho, segundo dados do Comex analisados pela Scot Consultoria, foram entregues 24,2 milhões de toneladas de adubos e fertilizantes no Brasil, crescimento de 8,8% em comparação ao mesmo período de 2024. Outro órgão também divulgou dados sobre o uso dos fertilizantes importados. De acordo com o relatório da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA), 94,3% dos fertilizantes utilizados pela agricultura no país, entre janeiro e maio deste ano, são oriundos de importação. O custo de aquisição de fertilizantes representa de 20,0 a 30,0% do custo total de produção dos principais grãos, como a soja, segundo dados da Conab.

O governo brasileiro anunciou em 2022 o Plano Nacional de Fertilizantes, que busca elevar a autossuficiência no setor. Apesar disso, a produção de fertilizantes no Brasil deve seguir com desempenho modesto nos próximos dez anos, dada a alta dependência de insumos importados e os entraves estruturais que dificultam a expansão interna. Em contraste, a produção brasileira de grãos apresenta perspectivas de crescimento e projeções de safras recordes na temporada 2024/25.

O principal gargalo está nos elevados custos de produção nacional, especialmente influenciados pelo preço do gás natural e infraestrutura logística precária, além da dificuldade de acesso a componentes químicos-chaves, como o NPK, cujos preços são atrelados ao dólar, expostos à volatilidade cambial e ao cenário global, sendo impactado por conflitos bélicos e tensões econômicas.

De passivo ambiental para um insumo de valor

Em contraponto aos fertilizantes químicos, a produção de biofertilizantes surge como opção para uma agropecuária menos dependente do mercado externo, baseada em práticas conservacionistas e com melhor aproveitamento dos recursos disponíveis na propriedade. Ao transformar resíduos orgânicos em insumos, o produtor não apenas reduz custos e impactos ambientais, mas também ganha vantagem competitiva.

O Confina Brasil, pesquisa expedicionária da Scot Consultoria, em sua sexta edição em 2025, constatou que a sustentabilidade já faz parte da rotina da maioria dos confinamentos visitados. O reaproveitamento dos dejetos bovinos é um exemplo. Em Goiás e no Tocantins, 100,0% das fazendas mapeadas pelo projeto na rota 2 já adotam o uso de biofertilizantes, enquanto na rota 1 esse número alcançou cerca de 95,0%. O que antes era tratado como passivo ambiental, hoje se tornou insumo valioso, utilizado em pastagens e lavouras, e até mesmo comercializado, gerando renda adicional.

Uma estimativa feita pela Scot Consultoria em janeiro de 2025, com base em dados do Benchmarking do Confina Brasil 2024, considera “a produção de 2,69 milhões de toneladas de esterco bovino anualmente em confinamentos brasileiros. Considerando um preço médio de venda de R$130,00/t, projetamos um mercado com potencial econômico de até R$350,0 milhões. Caso o material passe pelo processo de compostagem e enriquecimento, agrega-se valor, e os preços podem chegar a até RS160,00/t”.

Através da compostagem, o esterco bruto pode ser transformado em um fertilizante organomineral, que dispõe de uma solubilização mais gradativa durante o período de desenvolvimento da cultura, podendo ter, assim, maior eficiência agronômica do que os fertilizantes minerais solúveis (Embrapa).

Levando uma fábrica para o solo

O funcionamento dos biofertilizantes se diferencia fundamentalmente dos fertilizantes químicos, enquanto os produtos minerais fornecem nutrientes de forma imediata, resultando em rápida absorção e picos de disponibilidade, os biofertilizantes atuam gradualmente, liberando nutrientes à medida que microrganismos interagem com o solo e as raízes. Essa dinâmica prolonga a curva de absorção, fortalece a biologia do solo e melhora sua estrutura a longo prazo.

Segundo o Instituto de Fosfatos Biológicos (IFB), parceiro do Confina Brasil desde 2024, o processo de produção de biofertilizantes envolve etapas estruturadas que asseguram eficiência agronômica e rastreabilidade, envolvendo desde a limpeza dos currais e gestão do pátio de material orgânico até o enriquecimento, controle de qualidade e distribuição do bioinsumo.

“Fertilizantes minerais disponibilizam fósforo quase que na sua totalidade nas primeiras etapas do período vegetativo, ocasionando grande perda de fósforo por fixação ao solo. O fertilizante BioAtivo Fós supre as necessidades das plantas gradualmente acompanhando seu ciclo de desenvolvimento minimizando as perdas para o solo, que potencializa o seu rendimento em aplicação”, afirmou o CEO do grupo IFB, Danilo Parrode. “Um grande diferencial dessa biotecnologia, é que ela pode atuar continuamente na microbiota do solo, levando microrganismos que irão trazer vida ao solo”.

“A atuação do Grupo IFB baseia-se na utilização científica dos recursos orgânicos gerados pelas propriedades, convertendo-os através de um processo de transformação assistida, num fertilizante de base orgânica de alta eficiência para uso local. A transformação destes recursos ‘in loco’ é a marca da sustentabilidade na produção”, destacou.

E Parrode completa: “Disponibilizamos nossa tecnologia, equipes e equipamentos que executam toda a gestão e produção de fertilizantes orgânicos e organominerais sem a necessidade de envolvimento da estrutura do confinamento. Poupando os recursos humanos das propriedades para dedicação exclusiva às suas atividades fins”.

O grupo afirma que, para a pecuária seguir em frente e apoiando a agricultura com soluções cada vez mais sustentáveis é necessário “resiliência, tecnologia e dedicação”!

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